domingo, 15 de agosto de 2010

"Rotular-se" é o mesmo que não ter personalidade?

Uma das coisas mais comuns na Internet é encontrar gente dizendo que "se entregar a um rótulo é pura falta de personalidade" e blá, blá, blá. Neste post divagarei a respeito disso, obviamente dando enfoque aos otakus.

Em primeiro lugar, devemos estabelecer o que é um rótulo de otaku(ou de qualquer outra subcultura). Não o vejo como sendo nada mais do que uma categorização como quaisquer outras. Assim como divide-se os seres vivos em grupos distintos, divide-se também as pessoas, baseando-se em fatores diversos, organizar e dividir é algo que fazemos há milhares de anos. Como tal, não vejo motivo para dar mais respeito à religião, por exemplo, do que para o estilo de vida que uma pessoa tem. Aonde quero chegar com isso: Por que um otaku é sem personalidade e um religioso, seguindo uma doutrina rígida que o limita em quase todos os aspectos de sua vida, não o é? O mesmo é aplicável a nacionalidade, por que não? Não se diz sempre que brasileiros são malandros, ingleses são frios e acreanos não existem? Pela lógica de alguém que diz que otakus não tem personalidade, se dizer brasileiro(ou qualquer outra coisa) deveria ser o cúmulo da falta de si. E não se enganem, não se pode fugir dos rótulos, em qualquer momento de sua vida, estar-se-á encaixado em alguma categoria, sendo um estudante, por exemplo.

Enfim, o que quero dizer não é que se dizer parte de uma categoria(ou rótulo, que seja) é não ter personalidade, porque isso dá uma importância deveras exacerbada aos estereótipos. Deve-se parar pra pensar se o que define se alguém "tem personalidade ou não" são suas características pessoais e únicas ou as categorias nas quais tal pessoa se encaixa e os estereótipos que vem com elas. Se tomas por prioridade a segunda opção, parabéns, tu provavelmente és algum tipo de racista, homofóbico ou fodalhão da Internet.

Sim, categorizações são úteis e interessantes, mas não extenda a utilidade delas até o ponto em que forem sua única forma de julgamento sobre algo, isso é, como explicitei no parágrafo anterior, a essência do preconceito.

Portanto, enquanto uma pessoa somente fizer parte de um grupo e se reconhecer como tal, não vejo motivo algum para tratá-la como "sem personalidade". Não ter personalidade, para mim, é permitir que a personalidade do grupo suplante a sua própria, e não somente fazer parte desse grupo.

De certa forma, os otakus de verdade não se esforçam para serem otakus, mas sim se percebem como tal, notando que seu gosto acima da média por cultura japonesa, animes e mangás assemelha-se ao de outras pessoas. Com isso em mente, não vejo como pode haver falta de personalidade em simplesmente se rotular com algo que se encaixou a você, e não o contrário.

Pois afinal, se não fosse assim, não teríamos personalidade alguma a partir do momento em que nascemos em terras tupiniquins e fomos registrados como brasileiros, não é mesmo?